A probabilidade de o Brasil ter de decretar um racionamento este ano -
com corte de carga superior a 4% - é de 17,5%. A estimativa consta do
relatório Energy Report, da Consultoria PSR, intitulado "Piti do mercado
ou lentes cor-de-rosa do governo?". No documento, a empresa faz
simulações com base em dados oficiais de oferta, demanda e hidrologia
usados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) em fevereiro.
Com as informações em mãos, os cálculos foram repetidos para 1.200
cenários de afluências durante 2014. O resultado é o retrato da situação
atual, considerada séria, mas que pode mudar radicalmente se as
condições hidrológicas melhorarem. O fator decisivo serão as águas de
março. Se chover bem, o governo mais uma vez sairá ileso. Se não chover,
terá de encontrar alternativas rápidas para o problema.
Mas, apesar da dependência de São Pedro, o risco de racionamento não
foi causado pela hidrologia desfavorável e demanda elevada, na avaliação
da PSR. A vulnerabilidade do sistema é consequência de deficiências
estruturais na capacidade de suprimento. "Essas deficiências foram
detectadas em 2010, quando o ano começou com um dos melhores níveis de
armazenamento da história e terminou com um dos piores", apesar de a
oferta ter sido maior que a demanda, observa o relatório.
Em 2012, ocorreu o mesmo esvaziamento dos reservatórios e a
consultoria alertou para a vulnerabilidade do sistema em situações
moderadamente desfavoráveis. Além disso, os dados sobre recordes de
demanda não podem ser usados como desculpa. Segundo o relatório, há uma
sutileza nos números: em julho de 2013 houve a integração de Manaus ao
Sistema Interligado Nacional. Portanto, se comparar a demanda de janeiro
deste ano com janeiro do ano passado, haverá uma discrepância.
Outra explicação da PSR é que, em setembro do ano passado, o ONS já
previa uma demanda próxima ao que vem sendo verificado agora. Portanto,
não foi surpresa. "O sistema elétrico foi desenhado para uma hidrologia
pior do que a atual e uma demanda maior", afirmou uma fonte do setor.
Reserva. Um alerta feito pelo relatório da PSR é a
capacidade de geração para atendimento à demanda máxima. Segundo a
consultoria, a reserva mínima adotada no mundo todo é de 5%. Com 3%,
muitos países já estariam cortando carga. O problema é que, em vários
dias de janeiro, esse porcentual ficou na casa de 0,8%. "Isso pegou
muita gente de surpresa e até agora não se consegue entender por que
essa reserva caiu tanto", explicou uma fonte.
Hoje, a potência instalada do País é de cerca de 121 mil MW, e a
demanda é de 86 mil MW. Ou seja, haveria reserva de sobra no País, mesmo
considerando equipamentos em manutenção ou unidades fora de operação.
Mas, em 29 de janeiro, por exemplo, o total de reserva (girante) era de
680 MW enquanto a necessidade era de 4.200 MW. A queda dessa reserva
pode provocar blecaute com efeito dominó e apagar todo o País.
Procurado, o Ministério de Minas e Energia afirmou, por meio de nota,
que o fornecimento de energia do País está assegurado, em quantidade e
qualidade necessárias ao adequado atendimento de todos os consumidores.
"Graças à forte expansão da capacidade de geração e transmissão, o
sistema elétrico tem equilíbrio estrutural entre oferta e demanda, o que
representa segurança para o abastecimento do País."
fonte: Estadão
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