Uma a cada cinco mortes em acidentes nas rodovias federais ocorre em
trechos que representam somente 2% de toda a malha nacional.
A Folha identificou essa realidade ao analisar uma série de
planilhas da Polícia Rodoviária Federal. Elas detalham cada um dos
14.932 acidentes registrados ano passado no Carnaval, na Páscoa, no
Natal e no Ano-Novo.
Em 27 pequenos trechos que, somados, atingem 1.200 km, morreram
163 pessoas nesses feriados. O volume representa 21% das 759 mortes nas
BRs nesses períodos.
Em comum, os trechos têm entre 30 a 50 km em média, são, em sua
maioria, de pista simples e se localizam em serras, com percursos
sinuosos. Também letais, há exceções a essa característica de pista,
como algumas estradas duplicadas no Sul e no Sudeste.
Um exemplo é o trecho entre os quilômetros 300 e 362 da rodovia
Régis Bittencourt, que liga São Paulo a Curitiba, onde morreram 18
pessoas nos principais feriados de 2013.
O trecho fica entre Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, e
Miracatu, próximo ao Paraná. Parte fica na serra do Cafezal, cuja
duplicação se arrasta há anos e agora está prevista para até 2017.
Na via, trafegam em média 22 mil veículos por dia.
'CORPOS'
O caminhoneiro Robson Camargo, 27, passou pelo km 300 no Natal e
viu um acidente no qual um ônibus saiu da pista e deixou 14 mortos.
"Era madrugada, chovia, e vi corpos no acostamento". O motorista,
segundo a polícia rodoviária, dormiu ao volante.
"A pista está boa, mas o pessoal abusa da velocidade", disse o
jardineiro Luciano Candido, 39 -há uma semana, na Régis, um caminhão em
alta velocidade bateu na traseira de seu carro.
'AVENIDAS URBANAS'
O principal vilão nos acidentes é o motorista. Falhas do
condutor, como excesso de velocidade, ultrapassagens proibidas e
desatenção, representam 94% das causas das colisões com morte.
Além disso, estradas que se tornaram verdadeiras "avenidas
urbanas" estão entre os fatores de risco, afirma o chefe de Planejamento
Operacional da Polícia Rodoviária Federal, Stênio Pires.
Outro ponto é a evolução dos caminhões, cada vez maiores e mais
potentes. "Aumentou o tempo e a distância para ultrapassar, e o condutor
geralmente tem a percepção errada, e não dá tempo."
Entre os 27 "trechos letais" identificados pela reportagem, três
ficam na Dutra, a ligação entre São Paulo e Rio e que registra 874 mil
viagens diárias. Ali os acidentes ocorrem sobretudo nos trechos urbanos,
como em Guarulhos (SP), Nova Iguaçu (RJ) e Rio.
Esses locais têm o tráfego ampliado pelos acessos a bairros e
empresas às margens da rodovia. São como avenidas, com o espaço
disputado com caminhões, mas com velocidade de rodovia.
Nesses trechos, a maior parte das colisões se deve à alternância
abrupta entre faixas e a motociclistas formando corredores, além de
batidas traseiras no final das filas, diz o inspetor da polícia
rodoviária em Guarulhos, Celso Fernandez.
Fonte: Folha
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