No início do ano, ao estacionar seu carro no Parque Lage, como faz semanalmente, o professor Valmir Barbosa levou um susto: o valor da tarifa passou de R$ 7 para R$ 15 a diária, um aumento de 114,3%. O alto preço cobrado pelo estacionamento, administrado por uma empresa privada, é apenas um exemplo. Em toda a cidade, principalmente na Zona Sul e no Centro, os valores são considerados abusivos pelos motoristas, que se dizem reféns do serviço devido à falta de vagas regulamentadas nas ruas. Até mesmo nos shoppings as tarifas estão em disparada: o preço por duas horas de estacionamento não sai por menos de R$ 10 na maioria deles. Para se ter uma ideia, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo IBGE, o preço dos estacionamentos no ano passado teve um aumento médio de 13,75%, mais do que o dobro da inflação do período, que foi de 5,91%. As operadoras de estacionamentos argumentam que a redução da oferta de vagas nas ruas contribui para o valor elevado das tarifas.
— Os turistas nem perceberam, mas para quem frequenta semanalmente o parque (Lage), como o nosso grupo literário, trata-se de um achaque sem precedentes. Um absurdo e injusto. Nada justifica um aumento tão grande — disse Valmir Barbosa.
Meia hora de estacionamento no Parque Lage, cujas vagas são administradas pela Estapar, custa R$ 7; uma hora, R$ 8; três horas, R$ 10 e, a partir daí, a tarifa já pula para R$ 15 a diária. Frequentadores reclamam:
— Não venho mais de carro. Moro aqui perto e fica muito mais barato vir de táxi — argumentou a engenheira Valéria Barros, que diariamente passeia com a filha de cinco meses no parque.
A consultora imobiliária Sidi Kottwitz também já fez a conta. Muitas vezes ela prefere deixar o carro em casa e visitar os clientes de táxi para economizar o dinheiro do estacionamento.
— Com tanta obra na cidade, não há mais vagas nas ruas. Hoje vim de carro, mas tem dias que pegar um táxi sai mais em conta.
O estacionamento onde Sidi costuma deixar o seu carro, na Visconde de Pirajá, em Ipanema, também é da Estapar e cobra R$ 10 por 30 minutos de permanência; R$ 18 por uma hora; R$ 30 por uma hora e meia e R$ 34 por duas horas. Já no Centro, na garagem subterrânea da Cinelândia, administrada pela mesma empresa, o período de duas horas custa R$ 22,50. Mais 30 minutos de permanência no local, e a tarifa passa para R$ 30.
Com 1.036 vagas, o estacionamento está em promoção, mas a preços nada convidativos: R$ 60 a diária, de segunda a sexta-feira.
— Parece até piada! Será que eles acham isso barato? Eu, que trabalho todos os dias no Centro, não tenho condições de pagar. Hoje vim de carro porque precisei, mas, geralmente, pago o táxi que sai bem mais barato — comentou a secretária Lúcia Medeiros, moradora de Copacabana.
No Centro, por conta das obras do Porto, a prefeitura acabou com 1,4 mil vagas nas ruas
Operado pela GEpark, um estacionamento no Largo do Machado, esquina com a Rua Gago Coutinho, tem valores mais baixos, mesmo assim caros para quem precisa da mvaga diariamente. Trinta minutos custam R$ 7, mas cada meia hora a mais tem um acréscimo de R$ 5.
Nos shoppings, os altos preços dos estacionamentos causam ainda mais indignação
— Já estou aqui para consumir e ainda sou roubada na hora de estacionar o carro. Estacionamento em shopping deveria ser de graça — sugeriu o consultor de seguros Wagner Corrêa, ao estacionar no Fashion Mall.
Administrado pela Estapar, o estacionamento do shopping de São Conrado cobra R$ 10 por duas horas, e, a cada hora adicional, mais R$ 4. Caso a opção seja pelo sistema de valet, o preço pula para R$ 15 a hora. No Shopping Leblon, também da Estapar, o valor de duas horas de estacionamento é R$ 12, mas cada 30 minutos adicionais após os 120 minutos custa R$ 1. No Barrashopping, o estacionamento é administrado pela Multiplan e também custa R$ 10 por duas horas. A partir da segunda hora ou fração adicional de 30 minutos, é cobrado o valor de R$ 0,50. O Rio Sul cobra R$ 8 por três horas de estacionamento. Mesmo assim, pode doer no bolso caso o consumidor se empolgue nas compras, porque a hora adicional ou fração sai por mais R$ 4.
— Quem gasta nas lojas e restaurantes dos shoppings deveria estar livre da cobrança. Já teve até uma lei defendendo isso, mas não pegou, como tantas na cidade — criticou a professora Valéria Veiga Lima, consumidora frequente do Rio Sul.
Várias leis já tentaram regulamentar a cobrança de estacionamentos privados no Rio. Uma delas, de autoria da deputada estadual Cidinha Campos, foi sancionada em janeiro de 2011 e proibia, entre outras coisas, a cobrança de permanência mínima em estacionamentos. A medida criou polêmica e acabou tendo efeito contrário: estimulou o aumento de preços. Estacionamentos e shoppings foram multados. O caso foi parar na Justiça, que, depois de idas e vindas, considerou a lei inconstitucional.
Em 2005, outra lei estadual isentando o pagamento de estacionamento para clientes de shoppings que comprovassem gastos dez vezes acima do valor do serviço também foi derrubada, depois de um mês em vigor. Nos últimos 20 anos, leis criadas com esse intuito foram consideradas inconstitucionais pela Justiça, para quem o tema depende de legislação federal.
Empresa: preços impactados por aluguel
A direção da Escola de Artes Visuais do Parque Lage esclareceu que a cobrança de estacionamento foi criada em dezembro de 2012 para melhor organizar o fluxo de veículos no interior do parque e que os recursos são investidos na manutenção da escola e da área verde. Ainda segundo a direção da escola, o reajuste no início do ano foi o primeiro, passando para R$ 10 as três primeiras horas, duração média das visitas, segundo estudos feitos pela direção da escola, e R$ 15 a diária. “Diante desta premissa, procurou-se estabelecer o menor valor para este período inicial, ou seja, um aumento de 30%”, afirmou a direção, em nota.
A Estapar, que administra 107 estacionamentos no Rio, num total de 35 mil vagas, argumentou que os preços “são impactados pelo aluguel, valorização da região e a diminuição da oferta de vagas em vias públicas, além do custo de mão de obra e déficit de vagas em microrregiões, como Sul e Centro, que também afetam os valores aplicados”. A empresa informou ainda que oferece seguro, que cobre roubo e sinistros ocorridos dentro do estacionamento.
A GEpark, que administra o estacionamento no Largo do Machado, justificou, em nota, que “variações no consumo e preço de energia elétrica, água e esgoto, prêmio de seguro, IPTU e manutenção predial, entre outros”, são repassadas para o preço final da tarifa de estacionamento como forma de manter “o equilíbrio econômico e financeiro da atividade, garantindo assim a qualidade do serviço prestado”.
Fonte: Extra
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