terça-feira, 25 de março de 2014

RJ vai emitir nota técnica sobre desvio do Rio Paraíba para abastecer SP

O Secretário Estadual do Meio Ambiente, Índio da Costa, disse que vai divulgar nesta terça-feira (25) uma nota técnica sobre a viabilidade do projeto polêmico do governo paulista que prevê bombear parte da água do Rio Paraíba do Sul para ajudar a conter a seca em São Paulo. Como mostrou o Bom Dia Rio, o secretário disse que precisa do estudo do estado de São Paulo para entender qual é o impacto no abastecimento no estado do Rio.

"Esse estudo de São Paulo, até agora, não chegou nas mãos do Rio de Janeiro. São Paulo em 2013 fez um estudo que mostrava que essa não era a melhor opção. O estudo tinha dez opções e essa não era a melhor, inclusive era a mais cara. A gente agora está aguardado", explicou o secretário.

Ainda de acordo com Índio da Costa, São Paulo tem o direito de extrair água do Rio Paraíba do Sul, que nasce no estado, mas não pode interferir no abastecimento do Rio. Segundo ele, esse é o único rio que corta o RJ, e a água é utilizada para suprir as necessidades da população do Norte e da Baixada Fluminense, totalizando cerca de 9,5 milhões de pessoas.

“Nós temos hoje o direito de 250 m³/s de extração de água. Nos momentos de seca, são 160 m³/s. Mas, em muitos momentos do ano, a gente não chega a 160. Há uma preocupação. Entre 2001 e 2003 faltou água. O Rio de Janeiro sabe quais são as necessidades de hoje e quais são as necessidades futuras. Não dá para emprestar. Se São Paulo tiver um projeto que garanta a necessidade do Rio e que atenda São Paulo, vai ser espetacular", argumentou.

Aumento da poluição
O secretário citou que a medida de usar a água antes que ela chegue ao estado do Rio pode implicar também no aumento da poluição. O Rio Paraíba do Sul corta várias cidades fluminenses e é utilizado por empresas que ficam nas margens para a eliminação de resíduos.

"As empresas têm direito de jogar dejetos no rio em uma quantidade X de água. Na hora que você diminui a água, esse rio fica muito poluído. Daí já tem impacto na água que a gente trata para depois utilizar no sistema da Cedae”, explicou.

Praticamente 'inviável', diz Cabral
O governador Sérgio Cabral disse nesta quinta-feira (20) ser praticamente inviável o projeto do governo paulista. O rio é a principal fonte de abastecimento de água para a capital e para a Baixada Fluminense.

"Meus técnicos adiantaram que é uma possibilidade remota, eu diria inviável, porque ela implica em atrapalhar o abastecimento da população do Rio. Isso nao será tolerado", disse Cabral, admitindo que ainda não sabe muitos detalhes do projeto.

A captação da água do Paraíba do Sul abre uma disputa entre São Paulo e o Rio. O governo paulista apresentou uma proposta pra usar o rio — que passa por três estados — em épocas de seca no Sistema Cantareira.

A Agência Nacional de Águas (ANA) ainda não se pronunciou sobre o assunto. Enquanto isso, o Sistema Cantareira, que abastece oito milhões de pessoas na Grande São Paulo vai perdendo água. O sistema está com menos de 15 % da capacidade.

Projeto
O projeto do governo de São Paulo é interligar a Represa de Jaguari, abastecida pelo Paraíba do Sul, com a Represa de Atibainha, que faz parte do Sistema Cantareira, a principal fonte de abastecimento da Grande São Paulo. A ligação seria feita num trecho de quase 15 quilômetros, com estação de bombeamento e um túnel num trecho de serra.

Segundo governador de São Paulo Geraldo Alckmin, quando o Sistema Cantareira estiver com menos de 35% da capacidade, a água será bombeada para lá. E quando o problema for na represa do Rio Paraíba do Sul é ela que poderá receber água do Cantareira.

"Falei hoje com o governador de Minas, o Antônio Anastasia, que é o grande contribuinte para a bacia porque ele mais colobora do que tira, falei com o governador Sérgio Cabral, que entendeu. Nós vamos aumentar a reservação do Paraíba, nós poderemos fazer inclusive novos reservatórios", disse Alckmin.

Segundo o governo de São Paulo, a obra poderia ser iniciada daqui a quatro meses e levaria outros 14 meses para ficar pronta. A estimativa é de que sejam gastos R$ 500 milhões.

Por meio de nota, a Secretaria do Ambiente do Rio de Janeiro, informou que estudos ainda em elaboração, apontam que a disponibilidade hídrica atual já apresenta problemas no período de estiagem. E mesmo que São Paulo construa reservatórios, a proposta de captação de água pode agravar essa situação.

Ambientalistas analisam
No meio do caminho entre São Paulo e Rio, o Comitê da Bacia do Vale do Paraíba diz que vai estudar a questão. "É lógico que se houver uma retirada muito grande de água do Rio Paraíba poderá haver desabastecimento. Então, é isso que é discutido", destacou Francisco Carlos, do Comitê.

Já a ambientalista Malu Ribeiro, coordenadora da ONG S.O.S. Mata Atlântica, recomenda cautela. "Sem ver os estudos, sem uma avaliação ambiental estratégica, sem o estudo de impacto ambiental, não dá para dizer se ele é viável ou inviável", disse a ambientalista.

Para o jornal O Globo, a Cedae, companhia de água e esgoto do Rio, disse que a captação de água na Represa Jaguari pode afetar o Rio Jaguari, o que provocaria reflexos no abastecimento de cidades do Rio de Janeiro e comprometeria a irrigação das lavouras. A companhia alertou ainda que a medida pode aumentar a chamada língua salina, quando a água do mar invade o curso do rio e destrói as margens.

Estudiosos são unânimes em dizer que a Região Metropolitana de São Paulo, que fica num planalto, é muito seca e que os poucos rios que há na região, como o Tietê, estão completamente poluídos.

Fonte: G1

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