O Secretário Estadual do Meio Ambiente, Índio da Costa, disse que vai
divulgar nesta terça-feira (25) uma nota técnica sobre a viabilidade do
projeto polêmico do governo paulista que prevê bombear parte da água do
Rio Paraíba do Sul para ajudar a conter a seca em São Paulo. Como
mostrou o Bom Dia Rio, o secretário disse que precisa do estudo do
estado de São Paulo para entender qual é o impacto no abastecimento no
estado do Rio.
"Esse estudo de São Paulo, até agora, não chegou nas mãos do Rio
de Janeiro. São Paulo em 2013 fez um estudo que mostrava que essa não
era a melhor opção. O estudo tinha dez opções e essa não era a melhor,
inclusive era a mais cara. A gente agora está aguardado", explicou o
secretário.
Ainda de acordo com Índio da Costa, São Paulo tem o direito de
extrair água do Rio Paraíba do Sul, que nasce no estado, mas não pode
interferir no abastecimento do Rio. Segundo ele, esse é o único rio que
corta o RJ, e a água é utilizada para suprir as necessidades da
população do Norte e da Baixada Fluminense, totalizando cerca de 9,5
milhões de pessoas.
“Nós temos hoje o direito de 250 m³/s de extração de água. Nos
momentos de seca, são 160 m³/s. Mas, em muitos momentos do ano, a gente
não chega a 160. Há uma preocupação. Entre 2001 e 2003 faltou água. O
Rio de Janeiro sabe quais são as necessidades de hoje e quais são as
necessidades futuras. Não dá para emprestar. Se São Paulo tiver um
projeto que garanta a necessidade do Rio e que atenda São Paulo, vai ser
espetacular", argumentou.
Aumento da poluição
O secretário citou que a medida de usar a água antes que ela
chegue ao estado do Rio pode implicar também no aumento da poluição. O
Rio Paraíba do Sul corta várias cidades fluminenses e é utilizado por
empresas que ficam nas margens para a eliminação de resíduos.
"As empresas têm direito de jogar dejetos no rio em uma
quantidade X de água. Na hora que você diminui a água, esse rio fica
muito poluído. Daí já tem impacto na água que a gente trata para depois
utilizar no sistema da Cedae”, explicou.
Praticamente 'inviável', diz Cabral
O governador Sérgio Cabral disse nesta quinta-feira (20) ser
praticamente inviável o projeto do governo paulista. O rio é a principal
fonte de abastecimento de água para a capital e para a Baixada
Fluminense.
"Meus técnicos adiantaram que é uma possibilidade remota, eu
diria inviável, porque ela implica em atrapalhar o abastecimento da
população do Rio. Isso nao será tolerado", disse Cabral, admitindo que
ainda não sabe muitos detalhes do projeto.
A captação da água do Paraíba do Sul abre uma disputa entre São
Paulo e o Rio. O governo paulista apresentou uma proposta pra usar o rio
— que passa por três estados — em épocas de seca no Sistema Cantareira.
A Agência Nacional de Águas (ANA) ainda não se pronunciou sobre o
assunto. Enquanto isso, o Sistema Cantareira, que abastece oito milhões
de pessoas na Grande São Paulo vai perdendo água. O sistema está com
menos de 15 % da capacidade.
Projeto
O projeto do governo de São Paulo é interligar a Represa de
Jaguari, abastecida pelo Paraíba do Sul, com a Represa de Atibainha, que
faz parte do Sistema Cantareira, a principal fonte de abastecimento da
Grande São Paulo. A ligação seria feita num trecho de quase 15
quilômetros, com estação de bombeamento e um túnel num trecho de serra.
Segundo governador de São Paulo Geraldo Alckmin, quando o
Sistema Cantareira estiver com menos de 35% da capacidade, a água será
bombeada para lá. E quando o problema for na represa do Rio Paraíba do
Sul é ela que poderá receber água do Cantareira.
"Falei hoje com o governador de Minas, o Antônio Anastasia, que é
o grande contribuinte para a bacia porque ele mais colobora do que
tira, falei com o governador Sérgio Cabral, que entendeu. Nós vamos
aumentar a reservação do Paraíba, nós poderemos fazer inclusive novos
reservatórios", disse Alckmin.
Segundo o governo de São Paulo, a obra poderia ser iniciada
daqui a quatro meses e levaria outros 14 meses para ficar pronta. A
estimativa é de que sejam gastos R$ 500 milhões.
Por meio de nota, a Secretaria do Ambiente do Rio de Janeiro,
informou que estudos ainda em elaboração, apontam que a disponibilidade
hídrica atual já apresenta problemas no período de estiagem. E mesmo que
São Paulo construa reservatórios, a proposta de captação de água pode
agravar essa situação.
Ambientalistas analisam
No meio do caminho entre São Paulo e Rio, o Comitê da Bacia do
Vale do Paraíba diz que vai estudar a questão. "É lógico que se houver
uma retirada muito grande de água do Rio Paraíba poderá haver
desabastecimento. Então, é isso que é discutido", destacou Francisco
Carlos, do Comitê.
Já a ambientalista Malu Ribeiro, coordenadora da ONG S.O.S. Mata
Atlântica, recomenda cautela. "Sem ver os estudos, sem uma avaliação
ambiental estratégica, sem o estudo de impacto ambiental, não dá para
dizer se ele é viável ou inviável", disse a ambientalista.
Para o jornal O Globo, a Cedae, companhia de água e esgoto do
Rio, disse que a captação de água na Represa Jaguari pode afetar o Rio
Jaguari, o que provocaria reflexos no abastecimento de cidades do Rio de
Janeiro e comprometeria a irrigação das lavouras. A companhia alertou
ainda que a medida pode aumentar a chamada língua salina, quando a água
do mar invade o curso do rio e destrói as margens.
Estudiosos são unânimes em dizer que a Região Metropolitana de
São Paulo, que fica num planalto, é muito seca e que os poucos rios que
há na região, como o Tietê, estão completamente poluídos.
Fonte: G1
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