Em sessão solene no Palácio Tiradentes, a Assembleia Legislativa do
Estado do Rio de Janeiro (Alerj) fez ontem (24) a entrega simbólica do
mandato às famílias de 14 deputados comunistas cassados em 1948, pelo
governo Eurico Gaspar Dutra, quando o Partido Comunista foi posto na
ilegalidade.A deputada Jandira Feghali (PcdoB-RJ), uma das autoras da
homenagem, destacou o forte aspecto simbólico da homenagem no Rio de
Janeiro. “O plenário da Constituinte era aqui, Brasília não existia”,
lembrou Jandira. “Vamos completar a devolução [soa mandatos] e garantir a
democracia”, completou.
Entre os homenageados, estavam o escritor baiano Jorge Amado, o
paraense João Amazonas e o baiano Carlos Marighella, que tinham sido
eleitos deputados em 1945 pelo Partido Comunista. O Congresso Nacional
já havia feito a devolução simbólica dos mandatos às famílias dos 14 que
perderam o mandato em 1948, mas alguns de seus representantes não
puderam comparecer.
O atual presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo
Alves (PMDB-RN), representou o pai, Aluízio Alves, já falecido. “Meu pai
se elegeu em 1946, aos 23 anos de idade. Ele estava aqui em uma
cadeiras dessas em 1948”, disse ele, ao ressaltar a importância dessa
retratação política. “É fazer o passado ser visto e ouvido no presente,
orientar o futuro, [lembrar] o partido, a ética, a coragem, a
resistência e a democracia.”
O advogado Carlos Augusto Marighella recebeu a homenagem em nome
do pai, Carlos Marighella, um dos cassados, que foi morto durante a
ditadura militar. "Como meu pai era apontado como inimigo numero 1 da
ditadura, todas as ações para desqualificá-lo como opositor político
repercutiam muito negativamente quando eu era um menino, um adolescente.
Eu ficava indignado com todas aquelas mentiras que inventavam sobre meu
pai: terrorista, criminoso, assaltante”, lembrou Marighella. “Aquela
figura humana extraordinária que era meu pai, tudo isso era negado.
Então, um momento como este é de extrema alegria, por ver meu pai sendo
reconhecido como herói nacional. Meu pai era apaixonado pelo povo
brasileiro e dedicou toda sua vida à população”, disse ele.
A filha do ex-deputado Maurício Grabois, Victória Grabois,
presidente do grupo Tortura Nunca Mais, comemorou o fato de o Parlamento
reconhecer a luta desses congressistas pela democracia. “Várias das
conquistas que tivemos na Constituição de 1988 foram propostas por essas
bancadas em 1946. A universalização da educação, a reforma agrária,
várias conquistas que levaram à melhoria das condições de vida do povo
brasileiro foram iniciadas com essa bancada”, enfatizou Victória.
O presidente da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, Wadih
Damous, disse que a reparação chama a atenção para uma realidade que se
repetiu várias vezes na história brasileira. “Sempre que estamos em
situações em que a democracia é violada, a esquerda e os comunistas são
imediatamente atingidos”, ressaltou. “A arbitrariedade do Poder
Judiciário brasileiro vem de lá para cá em uma linha contínua, sobretudo
na Justiça Eleitoral, de cassar mandatos outorgados pelo povo e que só
pelo povo poderiam ser retirados. Foi o que aconteceu a esses
parlamentares, de forma inconstitucional e arbitrária”, afirmou Damous,
ao lembrar que, ao todo, 173 mandatos foram cassados pela ditadura
militar, sendo que alguns perderam a própria vida como Rubens Paiva.
Fonte: Jornal do Brasil
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